Publicação
Tendências de viagem recentes no mercado britânico 2023/24
A ABTA – Association of British Travel Agents realizou um inquérito, em agosto de 2023, a dois mil potenciais viajantes residentes no Reino Unido que tinham viajado nos últimos 12 meses. Com o objetivo de melhor poder apoiar as atividades dos seus associados, este inquérito incidiu em 3 aspetos principais:
// Identificar o impacto da alta dos preços sobre os orçamentos familiares e possíveis consequências no mercado de viagens internacionais;
// Confirmar a tendência de aumento da duração da época alta, com uma crescente opção por viagens internacionais nos meses de maio e junho e setembro e outubro e menor concentração nos meses tradicionais de época alta em julho e agosto;
// Avaliar em que medida a sustentabilidade afeta as opções de férias dos viajantes.
Enquadramento
Este ano, o Reino Unido assistiu à confirmação da retoma das viagens iniciada em 2022, após dois anos de confinamentos sucessivos em virtude da Covid-19. No entanto, este último ano ficou marcado por outro flagelo que recaiu sobre as famílias britânicas, designadamente o aumento do custo de vida, que muito veio pressionar os orçamentos familiares. No entanto, as viagens permaneceram resilientes, com 84% dos inquiridos a viajarem de férias nos últimos 12 meses e tirando em média 3,4 períodos de férias por pessoa (figura1).
Tal como em quase todos os destinos mundiais, o turismo doméstico resistiu substancialmente melhor à pandemia do que o turismo internacional tendo este, no entanto, recuperado de modo significativo e acima das melhores expetativas em 2022 e continuando a melhorar em 2023, recuperando para os níveis de dez anos atrás.
Caracterização do mercado
Ao decompor os viajantes britânicos pela sua estrutura etária verifica-se que o regresso às viagens está a ser mais rápido nos grupos mais jovens, até aos 44 anos, que já eram os que mais viajavam na pré-pandemia. Entre as tipologias de famílias, as famílias com filhos mais velhos foram as que mais voltaram às viagens. Em contraponto os viajantes com idade superior a 45 anos foram os que menos viajaram no último ano (figura 2).
O Top-10 dos países de destino em 2023 incluiu os habituais favoritos europeus, com a liderança da Espanha, seguido pela França, Itália e Grécia. Portugal foi o 6.º destino europeu mais escolhido pelos britânicos, e o 7.º entre todos os destinos. As novidades face à anterior edição foram as entradas da Turquia para 8.º, era 14.º e dos Países Baixos para 9.º, tinha sido 15.º em 2022. (figura 3).
Quanto ao tipo de produto, no período em análise a preferência recaiu nos city breaks que recuperaram fortemente da crise pandémica e ultrapassaram o sol & praia recuperando a liderança que tinham até 2019. A procura de viagens de curta duração para destinos rurais apesar de manterem a 3.ª posição entre as preferências, perderam quota de mercado. Os resorts em regime tudo-incluído e o aluguer de residências para férias tiveram uma assinalável subida face ao ano anterior (figura 4).
Nas férias vendidas em pacote pré-formatado a preferência incidiu sobre as férias de sol & mar, seguidas dos city breaks e de pacotes tudo-incluído (figura 5).
Quanto ao modo de reserva de viagens de férias, o ano de 2023 parece ter reforçado a aproximação dos viajantes aos profissionais de viagens & turismo, ressaltando entre os motivos o reconhecimento da maior comodidade e facilidade de marcação, a relação preço/qualidade, ou a opção por serviços do tipo tudo-incluído (figuras 6 e 7).
Este estudo da ABTA é ainda acompanhado, pela primeira vez, de um índice de confiança relativo à realização de viagens. Entre os fatores mais relevantes encontram-se a noção de ter válidos todos os documentos necessários para viajar, seguido da tomada de seguros de viagens, ter a capacidade de regressar do destino mesmo se a agência de viagens tiver problemas, ter noção do custo total da viagem ter proteção financeira (figura 8).
Alterações de comportamentos e de processos decorrentes da atual instabilidade mundial
Uma maioria muito significativa dos britânicos considera que a sua situação financeira vai estar sujeita a algum grau de pressão nos anos mais próximos e que essa pressão pode levar à necessidade de continuar a proceder a ajustamentos nos seus gastos pessoais, como já sucedeu em 2022. O inquérito da ABTA mostra que as férias continuam a ser uma prioridade de gastos, embora muitas pessoas reconheçam que precisarão de introduzir ajustamentos nos seus planos para fazer face ao aumento do custo de vida. Constatado que foi o forte compromisso dos consumidores com as suas férias, as pessoas dizem que mais provavelmente cortarão gastos não essenciais noutras categorias de produtos (figura 9).
Relativamente às questões da sustentabilidade e da responsabilidade dos viajantes para com a preservação dos valores ambientais e das comunidades locais nos destinos, verifica-se que há uma evolução da perceção, referindo muitos dos inquiridos considerarem a opção por destinos mais próximos, ou escolhas de alojamentos reconhecidos como ambientalmente sustentáveis. Contudo, se quase metade dos inquiridos responde positivamente, na verdade apenas 10% o fez em viagens realizadas no último ano (figura 10).
No primeiro semestre de 2023 o turismo britânico em Portugal atingiu o valor máximo nos últimos 5 anos, face ao período homólogo dos 4 anos anteriores (Quadro 1).
Quadro 1 - Turismo britânico em Portugal, 1.º semestre 202 Vs. 2022 e 2019 (em milhares)
Indicadores |
2023 |
2023vs. 2019 (%) |
2023 vs. 2022 (%) |
Quota 2023 (%) |
Hóspedes |
1.094,0 |
+9,0 |
+14,8 |
13,3 |
Dormidas |
4.451,9 |
+4,7 |
+12,9 |
18,5 |
Receitas |
1.608,6€ M |
+15,7 |
+21,0 |
15,5 |
Fonte: Turismo de Portugal
O mercado turístico britânico foi no primeiro semestre de 2023 o principal mercado emissor para Portugal, liderando em número de hóspedes, dormidas e receitas. Os turistas britânicos retomaram a sua procura pelo destino Portugal em 2022, reforçando-a de forma substancial em 2023. Essa tendência é já sentida em termos de destino, com maior ênfase nas regiões Norte, Centro e Lisboa, que registaram taxas de crescimento em torno dos 20%, face ao verificado no primeiro semestre de 2019 e 2022, sendo que o Algarve continua a predominar em número absoluto de hóspedes e dormidas.
Fonte: ABTA, Holiday Habits 2023-24; Turismo de Portugal, Turismo em números