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Publicação

agosto 01, 2024
Pedro Pereira
booking.com , Statista

Viagens e Alojamento na Europa - Booking | Statista

alojamento

O setor das viagens e alojamento foi alvo de um amplo estudo conjunto realizado pela Booking.com e pela Statista. O trabalho designado por Europe’s travel and accomodation sector in 44 charts tem o seu foco geográfico delimitado ao continente europeu e procura espelhar o estado da arte em seis aspetos centrais da atividade:
     1. Mega tendências;
     2. Setor de alojamento;
     3. OTA’s – Plataformas de reservas online;
     4. Dinâmicas setoriais;
     5. Preferências do consumidor;
     6. Sustentabilidade.

Neste artigo focaremos as nossas atenções sobre os resultados apresentados no que diz respeito ao desempenho do setor de alojamento e das plataformas de reserva online, designadamente em aspetos como taxa de crescimento, impacto sobre a economia e redução de desequilíbrios entre diferentes territórios.

Alojamento: evolução, desempenho e impacto

Um dos principais aspetos habitualmente considerados na análise de desempenho do setor de alojamento são os seus proveitos. Tomando como referência o ano de 2019 - o melhor para a atividade até à pandemia de Covid-19 - é possível verificar a rapidíssima recuperação do setor que, em 2020 e 2021, durante a vigência de prolongados e sucessivos períodos de confinamento, acompanhados de fortíssimas restrições às deslocações, sofreu um violento impacto. Em 2022, recuperou tudo o que perdera e em 2023 já ultrapassou o resultado de 2019 em quase 20%. A previsão apresentada revela uma tendência de contínuo, embora gradual, crescimento para os próximos anos (figura 1).

Fig.1 - Evolução dos proveitos totais da hotelaria e alojamento local na Europa (utilizando 2019 como ano de referência – base 100) | 2017 - 2027

Extraído de: Booking.com e Statista

Tal como para qualquer outra atividade baseada no consumo, também para o alojamento o surgimento de novos públicos, potenciais consumidores de serviços turísticos, é um fator da maior relevância. Em termos mundiais, as previsões apontam a Ásia como a região mundial, não só mais populosa, como também a que potenciará a ascensão de muito mais pessoas a classes médias, com maior poder aquisitivo e vontade de usufruir de maior qualidade de vida, incluindo o gozo de períodos de férias e a procura de experiências fora dos locais de residência habituais. Nesse âmbito, poderá haver uma forte possibilidade dos destinos e alojamentos europeus poderem ganhar quota de mercado e retirar daí proveitos para a sua atividade.

Fig. 2 – Evolução da quota de classe média por região mundial – 2020 vs. 2030

Extraído de: Booking.com e Statista

O período pandémico não provocou alterações significativas na distribuição entre os principais tipos de alojamento, tendo a hotelaria tradicional resistido bastante bem ao que foi uma maior penetração, designadamente do alojamento local, na altura bastante procurado muitas vezes com uma alternativa de morada à residência habitual para períodos de permanência relativamente prolongados. Apesar dessa tendência, a perda de quota da hotelaria tradicional pode ser considerada marginal, não tendo ultrapassado os 2% durante os anos da pandemia (figura 3).

Fig.3 – Repartição da quota de mercado entre hotéis e outras formas de alojamento

Extraído de: Booking.com e Statista

Na década 2012-2021 a tendência foi de aumento contínuo do número de estabelecimentos de alojamento, embora tendo acelerado esse ritmo a partir de 2016, tendo atingido o número máximo em 2019. Nos anos subsequentes e, em resultado dos impactos da pandemia sobre o setor do turismo, verificou-se um ligeiro declínio (figura 4).

Fig.4 – Evolução do número de estabelecimentos de alojamento na Europa (em milhares) | 2012-2021

Extraído de: Booking.com e Statista

Atualmente, assiste-se a uma retoma do investimento na atividade hoteleira, como resultado do aumento da procura turística e do aumento das taxas de rentabilidade. Entre os investimentos em curso na Europa, a grande maioria corresponde à construção de raiz de novos projetos e uma parte significativamente menor à remodelação de unidades já existentes (figura 5). 


Fig.5 – Investimento alocado ao setor hoteleiro (milhares de milhões de €)

Extraído de: Booking.com e Statista

Ainda sobre este mesmo assunto, refira-se que, em 2022, Portugal era o 4.º país da Europa com maior número de unidades em construção, apenas suplantado pelo Reino Unido, Alemanha e França (figura 6).


Fig.6 – Quota de construção de novos hotéis na Europa | 2022

Extraído de: Booking.com e Statista

Nos principais destinos europeus tem-se vindo a assistir a uma concentração da propriedade desde a viragem do século. O resultado, em termos gerais, foi o da duplicação do número de unidades hoteleiras pertencentes a cadeias nacionais ou internacionais, em detrimento dos hotéis independentes. Em termos relativos, a evolução foi maior em Itália e Espanha, que partiam de uma base mais baixa, mas mesmo entre os países em que o ponto de partida era mais elevado, registou-se um forte crescimento (figura 7).

Fig.7 – Taxa de penetração das cadeias hoteleiras em diferentes países europeus

Extraído de: Booking.com e Statista

 

Plataformas eletrónicas de reservas (OTA’s): evolução, desempenho e impacto

A notoriedade crescente das OTA’s, bem como a sua utilização cada vez mais frequente por parte dos viajantes durante o planeamento das suas deslocações, tornou estas ferramentas indissociáveis de grande parte dos hotéis, especialmente dos pequenos e independentes. Isso mesmo ficou evidenciado num recente inquérito internacional realizado pela Ernst & Young, com destaque para a relevância em ermos de visibilidade e alcance de potenciais clientes (96%), geração de reservas adicionais que de outra forma não ocorreriam (91%), ou a melhoria do desempenho baseada em insights dos clientes e dados analíticos da própria operação (83%).

Fig.8 – Aspetos mais relevantes para os pequenos hotéis e hotéis independentes no relacionamento com as OTA’s

Extraído de: Booking.com e Statista

As OTA’s aparentam ter um impacto positivo sobre o emprego, tanto de forma direta, como indireta. A importância das OTA’s ultrapassa em muito o aumento de volume de reservas nas épocas altas e nos destinos mais procurados, mas como mantêm uma facilidade de acesso e visibilidade permanente junto dos potenciais clientes, contribuem ativamente para o combate à sazonalidade de muitos destinos, prolongando a procura para além dos períodos de pico da procura, sobretudo, para áreas menos favorecidas. Isso mesmo se verificou no período pandémico, dando um contributo ativo para suportar a indústria quando esta passava por enormes dificuldades (figura 9).

Fig.9 – Emprego gerado pelas plataformas eletrónicas na União Europeia

Extraído de: Booking.com e Statista

Ao permitirem uma maior visibilidade de uma oferta muito mais ampla nos destinos, as OTA’s acabaram por ter um papel importante na concorrência entre as unidades hoteleiras, contribuindo para a descida dos preços de todos os hotéis, mesmo dos que não estão presentes nas plataformas. Em teoria, trata-se de uma potencial vantagem para os consumidores (figura 10).

Fig.10 – Impacto das plataformas de reserva online sobre os preços médios dos hotéis | 2019

Extraído de: Booking.com e Statista

Como resultado do já referido efeito de aumento de exposição aos potenciais clientes permitido pelas OTA’s, estas acabam por tornar mais acessíveis pequenas unidades independentes localizadas em áreas mais remotas. Isso mesmo transparece na distribuição das vendas em áreas urbanas e áreas rurais, verificando-se uma enorme situação de vantagem para as vendas nas áreas rurais através da OTA’s, do que na globalidade do setor (figura 11).

Fig.11 – Repartição na venda de alojamento turístico na Europa | 2019

Extraído de: Booking.com e Statista

O impacto das OTA’s sobre a atividade dos hotéis independentes parece ser claramente vantajoso. Esta conclusão é possível de ser obtida através dos resultados obtidos através de um inquérito conduzido pela Comissão Europeia, em 2021. A conclusão desse inquérito é de que para 80% dos hotéis inquiridos havia um aumento do número de reservas com recurso às OTA’s e apenas 4% afirmaram que aquelas plataformas impactavam negativamente sobre a sua atividade (figura 12).

Fig.12 – Efeito da utilização das OTA’s nas reservas totais de hotéis independentes na Europa

Extraído de: Booking.com e Statista

Nunca como nos três últimos anos o ímpeto pelo ato de viajar foi tão forte, o que se tem repercutido positivamente em todo o setor do turismo, designadamente nas empresas que o compõem e, por arrasto, no conjunto de toda a atividade económica, com reflexos evidentes sobre o PIB das economias nacionais em toda a Europa.

A crescente chegada de novos potenciais clientes, pelo aumento de rendimento disponível, sobretudo de populações provenientes de países emergentes, e o imparável aumento da conectividade global são fatores que têm vindo a contribuir para o aumento da procura por novas experiências e pela vontade de o fazer fora dos locais de residência habituais. Esta é uma oportunidade para todo o setor na Europa, enquanto principal destino mundial que não deverá ser desperdiçada.

Fontes: Booking.com e Statista