Eurostat: Dashboard de recuperação pós-covid-19 – edição de abril

O Eurostat acaba de divulgar a edição de abril do seu dashboard interativo que acompanha o desempenho de um conjunto alargado de indicadores fortemente atingidos, de uma forma, ou de outra, pela pandemia de Covid-19. Os indicadores distribuem-se por três grandes áreas: economia e ambiente; empresas e comércio; pessoas e emprego.

Procedemos à análise dos indicadores diretamente relacionados com o setor do turismo como sejam o número de voos e o número de dormidas na hotelaria, enquadrados por uma referência ao sentimento das empresas e dos consumidores face ao desempenho da economia.

O index que mede o sentimento face ao desempenho da economia está 10 pontos abaixo do verificado no início de 2019. Neste dashboard o ano de 2019 e os primeiros dois meses de 2020 servem como ponto de referência para se poder analisar o ritmo de recuperação após a hecatombe que se repercutiu em valores mínimos históricos para este index entre abril e maio de 2020, período em que se verificou o primeiro grande surto de covid-19 em território europeu.

A partir desse momento, a trajetória de recuperação de Portugal, foi quase sempre em paralelo à do conjunto de países da União Europeia, embora ligeiramente inferior até abril de 2022, momento a partir do qual o index português passou a ser um pouco superior. O momento atual não corresponde ao valor máximo do index desde a pandemia. De facto, o valor máximo foi atingido em outubro de 2021, no rescaldo de um primeiro verão, em que tinha havido retorno a uma certa normalidade e em que já tinham sido levantadas muitas das restrições às viagens internacionais, sobretudo no espaço europeu e ainda não tinha eclodido a situação de guerra na Ucrânia.

Em fevereiro de 2022, com o deflagrar de uma situação de guerra em território europeu e com a ocorrência de um forte suto inflacionista, que afetou toda a economia internacional, as expetativas de empresas e famílias foram severamente abaladas, perspetivando-se alguma recuperação nos próximos meses, face ao desempenho registado no primeiro trimestre deste ano.

Gráfico 1 – Sentimento das empresas e dos consumidores face ao desempenho da economia

Extraído de: Eurostat Dashboard, abril 2023

O turismo internacional e as viagens em particular estiveram entre as atividades mais afetadas pela pandemia e pelo vasto conjunto de medidas sanitárias impostas pelos governos para a tentar debelar. Dessa forma, não se estranha que os meses de mio e junho de 2020 tenham sido os mais negativos em termos do número de voos comerciais, tendo nesses meses registado reduções superiores a 90% face aos meses homólogos de 2019.  Contudo, e suportando a vontade de viajar fortemente reprimida durante os períodos de pico da pandemia, a aviação tem vindo a responder ao aumento da procura dos viajantes, o que se vem verificando na Europa de forma consistente e praticamente ininterrupta desde março de 2021. Desde então, verificou-se apenas um ligeiro período de quebra em fevereiro e março de 2022, coincidindo com o início da guerra na Ucrânia. 

O ritmo de recuperação de Portugal foi muito semelhante até ao final do primeiro semestre de 2021, momento a partir do qual, e apesar de a trajetória ser semelhante, se tem vindo a destacar do conjunto dos países da União Europeia. No final do primeiro trimestre de 2023, Portugal apresenta uma variação positiva próxima dos 11% face a a igual período de 2019, enquanto o resultado do conjunto dos países europeus ainda é de uma perda superior a 15%.

Gráfico 2 – Número de voos comerciais de passageiros na União Europeia, variação face ao período homólogo de 2019 

Extraído de: Eurostat Dashboard, abril 2023

Na comparação realizada no que respeita ao mesmo mês, mas do ano anterior, verifica-se que desde abril de 2021 tem sido sempre positiva, tendendo-se para alguma estabilidade, mas com números que desde o segundo semestre de 2022 se situam sempre num intervalo de 20% a 30% acima do verificado no ano anterior. Os períodos de pico ocorridos entre abril e julho de 2021 e de fevereiro a maio de 2022, e que foram bastante mais significativos em Portugal do que no conjunto dos países europeus, corresponderam a meses em que nos respetivos anos anteriores se tinham verificado severas restrições ao tráfego internacional de passageiros. 

Gráfico 3 – Número de voos comerciais de passageiros na União Europeia, variação face ao período homólogo do ano anterior

Extraído de: Eurostat Dashboard, abril 2023

A trajetória da recuperação do número de dormidas em estabelecimentos hoteleiros não difere muito da verificada nos voos comerciais. Houve um período inicial de encerramento praticamente total dos estabelecimentos hoteleiros, que depois foram reabrindo, com a adoção de protocolos de segurança sanitária de que o “clean & safe” do Turismo de Portugal foi pioneiro. A diferença reside na amplitude e dimensão dos picos de procura dado que se verificando restrições às deslocações internacionais, houve um boom de procura do turismo doméstico, que em muitos destinos assegurou um nível de procura que permitiu a continuação da operação das unidades hoteleiras.

Gráfico 4 – Número de dormidas em estabelecimentos hoteleiros na União Europeia, variação face ao período homólogo de 2019 

Extraído de: Eurostat Dashboard, abril 2023

Tal como verificado para os voos, também na procura de serviços de hotelaria, a recuperação se tem vindo a consolidar, com a trajetória portuguesa e comunitária a par na maior parte do período de tempo em análise, mas com o período de pico mais intenso em Portugal do que no conjunto da Europa comunitária. No primeiro trimestre de 2023, o número de dormidas na hoteleira europeia está em linha com o verificado em 2019 (+3% em fevereiro), enquanto Portugal terminou o trimestre com ganhos de 20% face ao período homólogo de 2019.

Gráfico 5 - Número de dormidas em estabelecimentos hoteleiros na União Europeia, variação face ao período homólogo do ano anterior

Extraído de: Eurostat Dashboard, abril 2023

Fonte: Eurostat  | Consulte o Dashboard