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Publicação

junho 04, 2025
Pedro Pereira
Cruise Lines International Association

Cruzeiros 2025: caracterização da procura e dimensão económica

turismo internacional

A procura por cruzeiros internacionais tem mostrado sinais de recuperação e crescimento após os violentos impactos da pandemia de Covid-19. Em 2025, é expectável que essa procura continue a aumentar, impulsionada pelo desejo dos viajantes de explorar destinos exóticos, experiências únicas e o conforto de viagens marítimas. Os destinos mais populares incluem as Caraíbas, o Mediterrâneo, o Alasca e destinos asiáticos, refletindo uma diversificação na preferência dos turistas.

Quanto à dimensão económica, o setor de cruzeiros é uma indústria que gera bilhões de dólares anualmente. Em 2023, o setor movimentou uma quantia significativa, e a expectativa é que em 2024 e 2025 continue a crescer, contribuindo para o turismo global, criando empregos e impulsionando economias portuárias locais. Além disso, a inovação em sustentabilidade e tecnologia também tem potencial para influenciar positivamente o setor, atraindo mais clientes preocupados com a proteção do meio ambiente.

A Europa como mercado de origem foi responsável por gerar 8,2 milhões de passageiros em 2023, um aumento de 6,5% face aos 7,7 milhões de 2019. Em 2023, o maior mercado na Europa foi a Alemanha, com 2,5 milhões de passageiros, ou cerca de 31% do total europeu. O mercado britânico ocupou o 2.º lugar, com cerca de 28% de quota, correspondendo a 2,28 milhões. A Itália ocupou o terceiro lugar com 1,18 milhões de passageiros, ou seja 14% do total de passageiros originários da Europa. A duração média da viagem dos passageiros de origem europeia foi de 8,7 dias. Por mercado, o britânico foi o que teve mais dias de viagem, em média, 10 dias. 

O principal destino para o qual os europeus navegaram foi o Mediterrâneo com 3,75 milhões de passageiros, este valor é superior aos 3,24 milhões de 2019, um aumento de quase 16%. Em seguida, surge o Norte da Europa, com cerca de 1,9 milhões de passageiros, acima dos 1,4 milhões em 2019. Assim, constata-se que em grande parte, os europeus navegam em redor da Europa.
Com base no relatório da CLIA – Cruise Lines International Association de 2024 e dos resultados de um inquérito realizado pela consultora internacional MMGY entre o final de janeiro e início de fevereiro deste ano e que envolveu 6.000 inquiridos em 4 grandes mercados – Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Alemanha -, procurar-se-á apresentar uma caracterização de quem procura este tipo de produto, bem como da dimensão económica do mesmo, à escala global, europeia e nacional.

Atração do produto: cruzeiros

Os cruzeiros são percecionados como uma forma de viagem de luxo, onde os passageiros podem encontrar acomodações confortáveis e uma ampla gama de serviços de elevada qualidade. Adicionalmente, são vistos como um produto capaz de oferecer uma possibilidade de relaxe e de desconexão com a realidade quotidiana, promovendo boas experiências em família.

A perceção dos cruzeiros enquanto produtos de luxo está muito ligada à elevada qualidade das acomodações e dos elevados padrões das refeições, especialmente dos jantares. É frequente os cruzeiros terem chefes galardoados com estrelas Michelin à frente das suas equipas de cozinha, bem como selecionadas cartas de vinhos, o que transmite uma aura de requinte aos jantares a bordo. Já o destino do cruzeiro, ou mesmo o tamanho do navio são fatores pouco considerados por quem procura este produto.

A imagem de produto de luxo associada aos cruzeiros encontra níveis de apreciação diferentes consoante a idade dos passageiros.

Fonte: MMGY, 2025


A tecnologia de ponta e o design apurado é o aspeto mais considerado por todas as faixas etárias, embora seja mais considerada pelos mais velhos e menos pelas gerações mais novas, para as quais são aspetos mais comuns no seu quotidiano. O segundo aspeto mais considerado é a personalização dos serviços, que em matéria de perceção do luxo suplanta a elevada qualidade das acomodações, que de resto é algo mais generalizado neste tipo de produto.

Também nesta matéria as prioridades variam consoantes as diferentes gerações. Os mais velhos são mais propensos a preferir ofertas em pacote que incluam voos, acomodações de nível superior e excursões nos diferentes portos previstos na rota. Este facto permite concluir que os mais velhos estão dispostos a pagar mais por opções que privilegiem o seu conforto e bem-estar, optando muitas vezes pela modalidade all-inclusive. Em contraponto, os Millennials e a Geração Z são menos propensos à aquisição do produto em pacote, contratando, a maior parte das vezes, as diferentes componentes em separado. 

Passado o momento de consideração da possibilidade de reservar uma viagem num cruzeiro, o que é que os potenciais clientes consideram como fatores mais atrativos?

O fator mais considerado e que mais diferencia este produto em relação a outros é a possibilidade de visitar múltiplos destinos numa só viagem. Seguem-se outros aspetos como o relaxamento e bem-estar, as excursões e experiências opcionais, o entretenimento a bordo e as experiências gastronómicas.

A consideração daqueles fatores de motivação, juntamente com a distribuição por faixas etárias e com as características próprias associadas a este produto, traduz-se num tipo de pesquisa que prioriza os seguintes aspetos:

Na maior parte das vezes, este processo de reserva tem lugar 4 a 6 meses antes da data de partida, podendo outra parte ser feita ainda com maior antecedência. Pelo contrário, apenas 3% reserva a menos de um mês de distância da partida.

Caracterização da procura

Segundo a CLIA, 12% dos utilizadores de cruzeiros, fazem-no duas vezes por ano e outros 10% utilizam cruzeiros três a cinco vezes por ano. Uma esmagadora maioria de 82% dos que já experimentaram o produto, repetem-no, enquanto 71% dos viajantes internacionais consideram a possibilidade de vir a fazer um primeiro cruzeiro. Estes viajantes têm um rendimento médio elevado, tendo a MMGY estimado em mais de 6300USD/per capita o orçamento anual dedicado às viagens.

Entre os utilizadores de cruzeiros europeus a idade média ronda os 50 anos. Desde 2019, este indicador apenas teve uma ligeira oscilação em 2022, permanecendo estável nos restantes anos:

A maioria dos utilizadores de cruzeiros (59%) tem idade superior a 50 anos, repartindo-se de forma praticamente uniforme por três diferentes faixas etárias (50-59, 60-69, + de 70). Pouco menos de 1/3 (32%) são de utilizadores com idade inferior a 30 anos.

Fonte: CLIA, 2024

Relativamente aos clientes portugueses, a distribuição etária é muito semelhante à do conjunto dos clientes europeus.

Fonte: CLIA, 2024

Dimensão económica atual da atividade

Nos anos pós-pandemia a recuperação da atividade internacional dos cruzeiros foi absolutamente notável. Entre 2019 e 2023, com dois anos pelo meio de quase completa paragem, no seu segundo ano de retoma, foi ultrapassado o até então máximo histórico de passageiros transportados, que tinha ocorrido em 2019. Este renascimento da atividade não aconteceu de forma uniforme pelas diferentes regiões mundiais. O processo foi liderado pela América do Norte e pela Europa, que já eram as regiões líderes tanto ao nível da oferta, como da procura. Pelo contrário, a Ásia e a Australásia ainda não tinham recuperado os números anteriores. A América Latina, uma região emergente para este tipo de produto, assistiu a um crescimento em linha com o crescimento mundial.

Fonte: CLIA, 2024

Distribuição dos passageiros de cruzeiros pelos diferentes destinos mundiais, em 2023 (%)

Fonte: CLIA, 2024

O enorme sucesso deste produto, traduzido numa imensa procura tem naturais consequências económicas. Entre os principais indicadores económicos destacam-se os quase 170 mil milhões de dólares de receitas e os 1,6 milhões de postos de trabalho, dos quais, 1 milhão são postos de trabalho diretos.

Fonte: CLIA, 2024

A Europa lidera o ranking internacional no que diz respeito ao número de passageiros transportados e ao emprego gerado, enquanto os Estados Unidos da América lideram os indicadores relativos a gastos e receitas gerados, bem como ao impacto no PIB.

Fonte: CLIA, 2024

Ainda considerando os impactos económicos e sociais para as comunidades que acolhem cruzeiros devem ser referidos dois aspetos relevantes: 1) seis em cada dez utilizadores de cruzeiros acaba por voltar mais tarde a visitar cidades onde aportaram anteriormente; 2) estima-se a criação de um posto de trabalho por cada 24 passageiros que utilizam os cruzeiros.

Fonte: CLIA, 2024

No contexto europeu, em 2023, a atividade de cruzeiros recuperou totalmente das perdas provocadas pelo período pandémico, apresentando um superavit de 500 mil passageiros face a 2019.

Os alemães, britânicos e italianos são os maiores utilizadores europeus deste produto turístico. Em 2023, Portugal ocupou o 10.º lugar em termos de procura de cruzeiros.

Distribuição relativa dos passageiros de cruzeiros na Europa, 2023

Fonte: CLIA, 2024

Conclusão

O turismo de cruzeiro mostrou toda a sua resiliência no pós-pandemia. De atividade moribunda, a uma recuperação rápida e extraordinária demorou dois anos. Em rigor, 2020 e 2021 assistiram a uma paragem praticamente total da atividade à escala global e no segundo ano de retoma (2023) foi ultrapassado o valor máximo de sempre, atingido em 2019, em +7%, correspondendo a quase 32 milhões de passageiros. Por comparação, o conjunto do turismo mundial, para a mesma data, ainda ficou 12% abaixo do verificado em 2019. 
Entretanto os estudos disponíveis apontam para um continuo crescimento da procura nos próximos anos, estimando-se que em 2027 se possa chegar muito próximo dos 40 milhões de passageiros.

Fonte: CLIA, 2025

As companhias estão a preparar-se para responder a este crescimento da procura, aumentando a capacidade da oferta com o aumento no número de navios e consequentemente de camas disponíveis.

Fonte: CLIA, 2024

O Mediterrâneo e as Caraíbas são os destinos com mais procura a nível mundial, dado que atingem com precisão um dos objetivos de quem procura este produto, que é a possibilidade de visitar várias cidades e vários países numa mesma viagem. Uma outra tendência verificada é a procura, em determinados mercados com maior poder de compra, de cruzeiros com mais dias de navegação, tirando partido de uma relação preço/qualidade mais favorável. 

Igualmente interessante é o aumento da procura por viajantes solitários ou em grupos de amigos, o que pode permitir às companhias desenhar novos formatos de diferente natureza nos seus portfólios de oferta.

À medida que a atividade de cruzeiros se desenvolve, é crucial que mantenha o alinhamento com as necessidades e o gosto da procura, seja através de itinerários culturais exclusivos, experiências premium ou ofertas baseadas numa muito favorável relação preço-qualidade.

Fontes:

CLIA (2024), 2023 Europe Market Report;
CLIA (2024), State of the Cruise Industry Report;
MMGY (2025), Portrait of International Cruise Travelers.