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Publicação

abril 04, 2022
Pedro Pereira
Oxford Economics

Will Overtourism Problems Return for Cities? | 2022

tendências

A Tourism Economics realizou no dia 15 de janeiro de 2022 um Webinar sobre o possível regresso do overtourism às cidades, considerando algum alívio dos efeitos nefastos da pandemia conjuntamente com a vontade reprimida de regresso às viagens e de acumulação de poupanças e rendimento disponível. 

A ideia principal é que a presença ainda significativa da variante Omicron faz com que permaneça ainda algum grau de incerteza sobre o que poderá ser 2022, em termos turísticos, mas prevendo-se que a consolidação da recuperação se verifique de modo progressivo ao longo do ano. Os principais fatores a considerar serão:

  • A economia mundial acelerará, após alguns sobressaltos no primeiro trimestre;
  • A variante Omicron atrasará o ritmo de recuperação internacional;
  • O turismo doméstico continuará a liderar as preferências, nos tempos mais próximos;
  • Para que a recuperação completa do setor se verifique será necessária a recuperação das deslocações de longa distância (intercontinentais);
  • Os cruzeiros internacionais estão progressivamente a retomar a atividade;
  • A gestão do destino terá sempre a capacidade de mitigar quaisquer riscos de ocorrência dos efeitos negativos associados ao overtourism.

O aumento de procura por serviços de alojamento à escala global recuperou significativamente ao longo do ano de 2021, prevendo-se com segurança que continue esta trajetória durante todo o ano de 2022. No entanto, nem todas as regiões têm recuperado de forma homogénea, com os Estados Unidos da América a assumirem uma clara liderança, ao mesmo tempo que a China demonstra um comportamento altamente irregular, com grandes variações ao longo de 2021. A Europa evidencia uma recuperação ascendente e progressiva, apenas interompida pelo aparececimento da variante Omicron, que afetou sobretudo o final de 2021 (gráfico 1).

Gráfico 1 – Variação das taxas de ocupação em 2021, no mundo

Fonte:STR

A juntar ao esperado bom desempenho da economia mundial em 2022 e como já tinha sido reportado em análises anteriores, a Tourism Economics evidencia o nível de crescimento da acumulação de poupanças das famílias, como consequência dos longos períodos de confinamento, a que as populações foram sujeitas ao longo de toda esta crise pandémica (gráfico 2). Este é um fator que poderá ser explorado pelas empresas do setor de viagens e turismo, já que se trata de importantes disponibilidades financeiras das famílias e que estão disponíveis para serem utilizados em bens não essenciais.

Gráfico 2 – Excesso de poupanças das famílias

Fonte: Oxford Economics/Haver Analytics

A recuperação das cidades enquanto destinos turísticos, já se fez sentir em 2021, embora de forma significativamente mais lenta do que os destinos não urbanos, que como já demonstrado noutros estudos, foram preferidos pelos turistas em plena pandemia. Estes destinos beneficiaram da possibilidade de serem espaços capazes de permitirem um maior distanciamento, evitando as grandes aglomerações de pessoas.  As cidades da América do Sul e da América do Norte, foram as que menos perdas registaram, quando comparadas com 2019, encontrando-se as cidades europeias no polo oposto, com perdas próximas dos 50% na afluência de turistas (gráfico 3).

Gráfico 3 – Variação do n.º de visitantes em 2021, face a 2019, nas diferentes regiões mundiais

Fonte: Tourism Economics

Tal como para o conjunto da atividade turística, e dos diferentes tipos de destinos, também as cidades acelerarão as suas trajetórias de recuperação durante 2022, com as perspetivas para as cidades europeias a situarem-nas ainda 17% abaixo dos níveis de procura verificados em 2019 e em último lugar entre as principais regiões mundiais (gráfico 4 e mapa 1).

Gráfico 4 – Variação do n.º de visitantes em 2022, face a 2019, nas diferentes regiões mundiais

Fonte:Tourism Economics

Também na recuperação do setor de viagens e turismo nas cidades, o turismo interno assumirá o principal papel, especialmente no curto prazo. As previsões apontam para que já em 2022 os níveis de procura das cidades, por visitantes nacionais dos respetivos destinos, alcancem o que tinha sido atingido em 2019, com tendência para um aumento progressivo e significativo até 2025. Em contrapartida, e ainda que evoluindo de modo favorável, mas significativamente mais lento, a procura internacional só deverá atingir os níveis verificados em 2019, em 2024 (gráfico 5).

Gráfico 5 – Número de chegadas previstas a destinos de cidade, 2015-2025

Fonte:Tourism Economics

As cidades europeias parecem ser, entre as principais regiões mundiais, as que menos dependerão do turismo doméstico, mas mesmo assim assumindo um peso relativo próximo dos 50% no número de visitantes. Alternativamente, a ásia-Pacífico e todo o continente americano apresentarão até 2025 taxas de dependência de visitantes para as suas cidades superiores a 80% (gráfico 6).

Gráfico 6 - % do turismo doméstico nas chegadas de visitantes a destinos de cidade, 2018-2025

Fonte:Tourism Economics

Entre os turistas internacionais, os destinos urbanos foram de facto os mais severamente penalizados pelo aparecimento da pandemia. Como pode ser observado no gráfico abaixo, as dormidas internacionais em destinos não urbanos, em 2019, tinham atingido os 50% e em tempos de pandemia terão ultrapassado os 60%. A tendência prevista é de inversão em relação aos últimos dois anos, com uma retoma clara dos destinos de cidade a assumirem uma importância ainda maior do que a que tinham na situação pré-pandémica (gráfico 7).

Gráfico 7 - % de noites em destinos não urbanos, 2019-2025

Fonte:Tourism Economics

Nos cenários traçados para a evolução da procura entre os maiores destinos urbanos internacionais, verifica-se a ausência completa de cidades-destino europeias, aparecendo apenas Londres no 5.º lugar. Note-se que já em 2019 também só constavam Londres e Paris, como 9.º e 10.º destinos urbanos mundiais. Em tempos de pandemia e com as fortes restrições às viagens internacionais, designadamente as de longa distância, e favorecidas pelas curtas distâncias no continente europeu, assumiram posições de destaque cidades como Istambul, Roma, Amesterdão ou Barcelona. Todavia as previsões existentes até 2025 indicam uma fortíssima presença de cidade da região Ásia-Pacífico (gráfico 8).

Gráfico 8 – Top-10 maiores cidades-destino mundiais, 2019-2025

Fonte:Tourism Economics

Entre um importante conjunto de destinos urbanos europeus, verifica-se que tendo 2025 como horizonte temporal, haverá uma tendência para um relativo acréscimo de visitantes. O cenário revela uma tendência, ainda que moderada, para um crescimento da intensidade turística nalguns destinos europeus, mas sempre muito menos significativa do que nas grandes metrópoles da Ásia-Pacífico, Médio Oriente ou América do Norte (gráfico 9).

Gráfico 9 – Intensidade turística (dormidas/população residente) em algumas cidades europeias

Fonte:Tourism Economics

Da análise integrada de todas as variáveis analisadas se poderá constatar a existência de risco baixo ou moderado do fenómeno de overbooking no conjunto dos destinos europeus, pelo menos nos anos mais próximos. Mesmo verificando-se um acréscimo no número de visitantes nos destinos urbanos europeus, as lições aprendidas com alguns fenómenos que já vinham a acontecer antes da pandemia, a adoção de novos comportamentos e atitudes adquiridos em tempos de pandemia, o surgimento de novas tendências de consumo, uma maior preocupação com a sustentabilidade dos destinos e a própria capacidade de intervenção ao nível da gestão dos destinos, serão certamente instrumentos que poderão contribuir para mitigar os aspetos mais negativos associados ao eventual excesso de procura de uma qualquer cidade-destino.

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