Publicação
Tendências de viagens no mercado britânico
De modo a melhor poder apoiar as atividades dos seus associados, a ABTA – Association of British Travel Agents conduziu com o apoio de uma consultora um inquérito junto do seu público-alvo, potenciais viajantes residentes no Reino Unido. O inquérito teve lugar em março de 2022.
O inquérito incidiu em 4 aspetos principais, de modo a identificar:
- Eventuais constrangimentos capazes de condicionar de alguma forma a realização de viagens em 2022;
- A existência de preferências de produtos e destinos;
- A segmentação por grupos etários e por motivos para a realização de viagens;
- Alterações de comportamentos e de processos decorrentes do período pandémico.
Constrangimentos
A confiança dos consumidores britânicos está em quebra consecutiva desde julho de 2021. A subida dos custos de energia, seguida da alta dos preços dos bens de consumo levou a um agravamento das condições de vida sentida pelos britânicos, que pode vir a ter reflexos ao nível da disponibilidade financeira para a realização de viagens de férias. Também o recente conflito Rússia-Ucrânia veio acrescentar um grau adicional de incerteza à situação antes referida (figura 1).
Figura 1- Evolução recente do nível de confiança dos consumidores britânicos
Uma maioria muito significativa dos britânicos considera que a sua situação financeira vai estar sujeita a algum grau de pressão nos anos mais próximos e que essa pressão pode levar à necessidade de proceder ajustamentos nos seus gastos pessoais. Cerca de 43% espera que o impacto sentido seja moderado, enquanto 31% afirma já estar ativamente a diminuir os gastos face ao que fizeram nos dois últimos anos (figura 2).
Figura 2 – Perceção da pressão da situação económica sobre as finanças pessoais
Fonte:GWI
Preferências – Produtos e destinos
Praticamente em todos os principais produtos turísticos se verifica um aumento da predisposição para viajar face ao registado em julho de 2021. Esta preferência é transversal aos diferentes grupos etários, sendo que os mais velhos consideram igualmente as férias de praia e passeios em meio rural (figura 3).
Figura 3 – Tipos de férias planeados para 2022
Fonte:GWI
Muito interessante a análise que relaciona as faixas etárias com a preferência pelos diferentes destinos, o que permite aos gestores dos destinos a tomada de decisões mais direcionadas nos que respeita ao marketing turístico. De um modo geral e por comparação aos resultados obtidos à mesma questão em julho de 2021, o Reino Unido continua a reunir as preferências do seu mercado interno, embora perdendo quotas significativas em todas as faixas etárias. A faixa etária mais nova manifesta clara preferência pelos destinos de sol e mar no sul da Europa. Portugal está muito bem posicionado, especialmente nas faixas etárias mais novas, com taxas de crescimento muito relevantes face ao anterior momento do inquérito (figura 4).
Figura 4 – Principais destinos potenciais para os turistas britânicos, por faixa etária
Fonte:GWI
Quanto aos motivos associados à realização de viagens predominam a procura de descanso, estar com familiares e amigos e a procura de conhecer novas culturas. O contacto com diferentes culturas e o passar tempo longe de casa são mesmo os motivos que apresentam maior crescimento nos meses mais recentes (figura 5).
Figura 5 - Principais motivos de viagem para os turistas britânicos, por faixa etária
Fonte:GWI
Alterações de comportamentos e de processos decorrentes do período pandémico
Uma das principais alterações a que se vem assistindo nos últimos anos em matéria de procura de inspiração e para a reserva de viagens é a crescente importância das redes sociais. Esta é uma tendência com crescente e acelerado significado junto dos Millenials e da Geração Z (figura 6).
Figura 6 – Importância das redes sociais nos processos de inspiração e reserva de viagens
Fonte:GWI
Um outro fator relevante é a predisposição para aumentar os gastos em viagens. Deve ser tomado em conta as respostas terem sido obtidas recentemente, já com os britânicos sentindo o aumento do custo de vida em resultado das tendências inflacionistas presentes desde o final de 2021. Em todos os tipos de férias analisados é significativa a predisposição para aumentar os gastos relativamente ao ano anterior (figura 7)
Figura 7 – Predisposição para aumento de gastos em viagens, em 2022
Fonte:GWI
Existe ainda um outro conjunto de novos comportamentos/exigências dos consumidores britânicos relativamente às viagens e que compreendem alterações desde a reserva até à experiência propriamente dita. Entre essas novas exigências contam-se a flexibilidade das políticas de reserva, a própria hipótese de cancelamento sem penalizações, novos seguros de viagem, garantias de procedimentos adequados de higiene e segurança no destino, entre outras. Por faixas etárias, os meais velhos parecem dar mais importância à flexibilidade das reservas, enquanto os mais novos parecem estar mais sensibilizados para a introdução de dispositivos tecnológicos. As questões de higiene são consideradas com menor enfase por todas as faixas etárias (figura 8).
Figura 8 – Novas exigências dos consumidores britânicos face às viagens
Fonte:GWI
A eficácia da comunicação por parte dos destinos depende da utilização de vários canais, tanto mais que parece haver uma completa divergência de opções quando consideradas as diferentes faixas etárias. Assim, os mais velhos parecem dar mais importância à recomendação direta de pessoas próximas e da publicidade em televisão, enquanto os mais novos privilegiam as redes sociais e a internet (figura 9).
Figura 9 – Descoberta de novas marcas/destinos pelos diferentes canais de comunicação
Fonte:GWI
No primeiro trimestre de 2022 o turismo britânico em Portugal regrediu cerca de 20%, face ao período homólogo de 2019 (Quadro 1).
Quadro 1 - Turismo britânico em Portugal, 1.º trimestre 2022 Vs. 2019
Indicadores |
2022 |
2022 Vs 2019 (%) |
Quota 2022 (%) |
Hóspedes |
237.500 |
-21,8 |
13,4 |
Dormidas |
999.100 |
-24,7 |
17,8 |
Receitas |
395,71 M€ |
-19,8 |
14,5 |
Fonte: Turismo de Portugal
No entanto, não pode deixar de ser referido que os turistas britânicos estão de novo a procurar Portugal enquanto destino das suas viagens, com progressos evidentes face ao verificado nos dois anos anteriores. Essa tendência é já sentida em termos de destino, com maior ênfase na Madeira e no Algarve e no produto golfe.