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A recuperação do turismo de negócios num quadro pós-pandémico
A recuperação das viagens de negócios tem sido mais lenta do que a do turismo de lazer, mas está a acontecer. Na maioria dos países, o turismo interno já regressou aos níveis de 2019 e as viagens internacionais, ainda que não tenham recuperado completamente, já ultrapassaram todos os melhores cenários estabelecidos para a sua recuperação.
Os cenários iniciais para a trajetória pós-COVID das viagens de negócios eram devastadores, havendo algumas análises que profetizavam o seu final, pelo menos no modo como se efetuavam até ao surgimento da pandemia. No relatório “Business Travel Index Outlook”, a GBTA - Global Business Travel Association refere ser expectável que os gastos associados ao turismo de negócios regressem aos níveis de 2019 já em 2024. A mesma fonte destaca a Europa Ocidental como a região de crescimento mais rápido, seguida pela América do Norte. A Ásia-Pacífico, que prolongou o período de restrições às viagens internacionais, está agora a tentar recuperar o atraso o que contribuirá para a recuperação das chegadas internacionais em geral.
Mas o quadro de recuperação que se vive atualmente está ameaçado por uma conjuntura política e económica altamente instável. Toda esta situação conduziu a que o painel de peritos da Organização Mundial do Turismo tenha apontado a situação económica e o aumento dos custos com os transportes e o alojamento como os principais fatores que pesam na recuperação do turismo internacional.
Impacto da situação económica na recuperação do setor turístico
Extraído de: Booking.com (fonte: OMT, painel de peritos, janeiro 2023)
Apesar da atual conjuntura internacional instável, como os já referidos efeitos sobre os preços das várias componentes das viagens de negócios, bem como o rápido desenvolvimento das ferramentas tecnológicas facilitadoras da comunicação à distância, as perspetivas de evolução deste segmento são francamente animadoras. As perspetivas da GBTA são que em 2023 os gastos neste segmento se aproximarão muito dos verificados em 2019, que serão ultrapassados já em 2024 e continuarão a aumentar continuadamente até 2027, ano em que o aumento de gastos superará em 25% o valor de 2019.
Evolução dos gastos no segmento de turismo de negócios (em Bilhões US$)
Extraído de: Booking.com (fonte: GBTA)
Entre os países maiores geradores de viagens de negócios as deslocações para destinos domésticos são claramente dominantes. Nos EUA, apenas 16,4% das viagens de negócios são internacionais, o que está relacionado com a dimensão do país e da sua economia. Também entre os maiores países europeus – Alemanha e Reino Unido – a preponderância de deslocações internas é evidente, apesar da situação de proximidade com um conjunto alargado de outros mercados e da Alemanha estar integrada na União Europeia desde a sua criação, o que poderia pressupor um maior nível de integração pelo menos com os países mais próximos. Ainda assim, o Reino Unido é entre estes mercados o que regista uma maior percentagem de viagens internacionais de negócios.
Repartição de viagens internacionais/domésticas no segmento de turismo de negócios
Extraído: Booking.com
Apesar de todo o desenvolvimento tecnológico dos equipamentos e formas de comunicação, existe um conjunto de circunstâncias em que as viagens de negócios, aparentemente, continuam insubstituíveis. Num inquérito sobre tendências de viagens de negócios realizado pela Booking.com, foram questionadas pequenas e médias empresas sobre os seus hábitos de viagens corporativas. Os resultados revelaram que a presença em conferências e eventos foi o principal motivo para aprovação de despesas de viagem. As feiras foram indicadas por 62% dos entrevistados e os projetos presenciais, por 56%. O contacto direto e pessoal parece ainda prevalecer nas relações de caracter empresarial, com cerca de 7 em cada 10 empresas a valorizarem o envolvimento pessoal com os seus clientes.
Motivos que justificam as deslocações corporativas
Extraído: Booking.com
Uma tendência que já se verificava antes da pandemia é a combinação uma viagem de negócios com um período de lazer, designada por ”bleisure”. Segundo o relatório de tendências de comportamento do consumidor do World Travel & Tourism Council (WTTC), parece que se está a assistir a um recrudescimento daquele fenómeno, tal como consta no relatório “A world in motion: shifting consumer travel trends in 2022 and beyond”. De acordo com uma previsão do Euromonitor, incluída no relatório “Bleisure and the future of work and travel”, é expectável que aumente mais do dobro entre 2021 e 2027 e que possa mesmo chegar a um valor próximo dos US$ 750 mil milhões em 2023, com uma CAGR de 8,9% entre 2022 e 2032, segundo a consultora Navan.
Perspetivas de crescimento do bleisure (bilhões US$) 2021-2032
Extraído de Navan.com (fonte: Allied Market Research)
Um inquérito recente da American Hotel & Lodging Association concluiu que 89% de quem viaja em negócios quereria juntar algum tempo adicional à sua viagem para desfrutar de momentos de lazer. Num outro inquérito realizado pela Banyan, 76% dos entrevistados referiu já ter gozado algum período de lazer em viagens de negócios já realizadas.
Fontes: Booking.com; Euromonitor; GBTA.org; Navan.com; Statista; WTTC.org