Publicação
O Golfe Turístico em Tempos de Pandemia
A paragem em resultado da pandemia
O surto de coronavírus, depois de um forte desempenho internacional do setor em 2019, veio ofuscar as perspetivas positivas, que existiam para o ano de 2020. Em janeiro de 2020, campos de golfe, hotéis e resorts de golfe em toda a Ásia reportaram que as suas reservas antecipadas para chegadas de turistas de golfe tinham aumentado, em média, 4,4% em comparação com o mesmo período do ano anterior. No entanto, poucas semanas após a recolha desses dados, todos os setores da indústria do turismo começaram a sofrer com as restrições de viagens impostas pela disseminação do coronavírus. A nova doença alastrou-se muito para além do que era imaginável, alastrou-se a todas as regiões do planeta e veio a resultar num medo geral de viajar e num interminável conjunto de restrições impostas pelos estados.
Ainda segundo a IAGTO, as vendas mundiais dos operadores de turismo de golfe tinham crescido mais uma vez em 2019, alcançando o oitavo ano consecutivo de crescimento, a uma taxa média de 9,2%. As reservas futuras em janeiro de 2020 tinham aumentado, tanto para os fornecedores, como para os operadores de turismo de golfe, em linha com o crescimento verificado em 2019.
No entanto, em determinada altura Peter Walton, CEO da IAGTO – The Global Golf Tourism Organisation, refere que os fortes desempenhos em todo o ano de 2019 e as significativas reservas para o que restava de 2020 “…agora têm que ser confrontados com a nuvem trazida pelo surto Covid-19 na China, que teve um impacto além de suas fronteiras”.
Da análise regional das principais regiões que se assumem enquanto destinos de golfe, a Europa Mediterrânica, em que Portugal se insere, viu as chegadas de turistas de golfe aumentarem 1,2% no quarto trimestre de 2019, enquanto as reservas antecipadas em janeiro de 2020 tinham aumentado 2,9%, relativamente ao período homólogo.
Como lidar com a pandemia de forma a garantir a segurança na prática de golfe
A pandemia estimulou um espírito de inovação e experimentação que pode tornar-se permanente. Para manter os jogadores adequadamente separados foram implementadas regras em muitos campos, sempre com o intuito de reduzir o risco de propagação da Covid-19:
- Reservas online, reduzindo assim os contatos dentro e ao redor do clubhouse;
- Troca de equipamentos no estacionamento, evitando o clubhouse, ou vestiários, sempre que possível;
- Respeito pelo distanciamento social (regra de 2 metros) no green;
- Encontro com parceiros no primeiro tee, com saudações adequadas às novas circunstâncias;
- Insistência no distanciamento social (regra de 2 metros) em tees, greens e ao longo das voltas;
- Os carrinhos de golfe só devem ser usados por um único jogador e desinfetados no final de cada utilização;
- Os jogadores de golfe devem pegar apenas na sua própria bola;
- Não mexer na bandeira que assinala cada buraco;
- Evitar os tradicionais cumprimentos no final da cada volta;
- Evitar a socialização e permanência nas instalações, os jogadores devem-se retirar assim que for possível.
A nova procura decorrente da pandemia
Para lá de todas as alterações que a pandemia veio introduzir nos comportamentos individuais e coletivos, há um que importa aqui salientar e que está relacionado com a prática desportiva. Em 2020, a pandemia da Covid-19 praticamente encerrou todas as atividades recreativas e de lazer. Os ginásios, bem como locais fechados destinados à prática desportiva estiveram inacessíveis. Ainda assim, os desportos de ar livre aumentaram a sua procura à medida que os praticantes de atividades desportivas procuravam os espaços abertos e a uma distância segura, com alguns ajustes para contemplar as novas diretrizes de saúde.
Esse facto, mais evidente em países onde o número de praticantes é mais representativo, mesmo tendo os campos de golfe encerrado, especialmente no período inicial da pandemia, o número de voltas de golfe nos Estados Unidos da América aumentou 14%, face a 2019 (Gráfico 1), o número de jogadores na Alemanha aumentou em 9 000 (+1,4%), em Espanha o aumento foi de 4 000 jogadores, só na região de Madrid. Este aumento de procura não se deixou de fazer sentir em Portugal, como demonstram os dados recolhidos pelo Turismo de Portugal junto dos Campos de Golfe em Portugal. Em Portugal, embora o número de voltas tenha diminuído drasticamente devido à forte dependência do golfe turístico, a verdade é que a prática de jogadores nacionais também aumentou.
Gráfico 1 – N.º de voltas de golfe jogadas nos E.U.A., YoY (2020 Vs. 2019)
Extraído de: thengfq.com
Mas esta maior procura do golfe, traz consigo uma outra componente, a do imobiliário, associada ao turismo residencial. A generalização do teletrabalho, um aumento pela procura de espaços verdes e bem-estar está a gerar um renovado interesse na compra de residências próxima de campos de golfe, designadamente em condomínios onde o golfe é o elemento dominante. Os compradores, muitos dos quais provenientes de áreas urbanas, são atraídos por elementos comumente associados aos resorts de golfe: a forte componente de natureza, ar puro e serviços de elevada qualidade. Estas são as conclusões de uma recente auditoria internacional realizada pela European Tour Destinations, uma rede de 30 campos de golfe de classe mundial, e que destaca as mudanças no comportamento do consumidor e as tendências emergentes.
Segundo a mesma entidade, há muito tempo que os não jogadores de golfe constituem a maioria dos residentes nos condomínios de golfe, normalmente 66%. Mas os novos compradores estão a perceber que os resorts de golfe oferecem muito mais do que golfe. No caso dos destinos turísticos europeus, trata-se de resorts com amenidades e serviços de categoria reconhecida, condomínios com lojas, restaurantes e spa. São assim, lugares seguros, e tranquilos para se viver e estão-se a revelar lugares com forte capacidade de atração.
Esta é uma tendência que também se verifica em Portugal, com especial incidência regional no Algarve. Nesta região, as vendas de imobiliário subiram significativamente face a 2019, alguns exemplos:
- Na Quinta do Lago, o número de compradores nacionais quase duplicou, passando de 11% para 20%;
- No segundo semestre de 2020, os cidadãos do Reino Unido foram responsáveis por 56% das aquisições por estrangeiros em resorts no eixo Albufeira-Loulé e de 35% no Barlavento, revela o estudo Mercado dos Resorts em Portugal, realizado pela Confidencial Imobiliário em parceria com a Associação Portuguesa de Resorts, referente ao segundo semestre de 2020;
- A procura por residências no Amendoeira Golf Resort, perto de Silves, aumentou em 2020, e superou em 80% o total de vendas do ano anterior. Entre os compradores estão britânicos, franceses, suecos e canadianos, segundo a Kronos Homes.
Panorama nos maiores mercados emissores de turistas de golfe para Portugal
Os maiores mercados emissores de turistas de golfe para Portugal são o Reino Unido, Alemanha, países nórdicos (com destaque para a Suécia), França e Holanda, como retrata o inquérito mensal do número de voltas de golfe realizado pelo Turismo de Portugal (Quadro 1).
Quadro 1 – Maiores mercados de turismo de golfe para Portugal e Algarve, 2019
Mercado |
Portugal |
Algarve |
Reino Unido |
48,5% |
54,5% |
Suécia |
9,1% |
7,5% |
Alemanha |
8,7% |
7,7% |
França |
3,4% |
2,5% |
Holanda |
3,4% |
3,2% |
Fonte: Turismo de Portugal
Este conjunto de mercados coincidem, de resto, com os países europeus com maior número de jogadores de golfe registados em 2018 (Gráfico 2).
Gráfico 2 – Países europeus com maior número de jogadores de golfe registados, 2018
Fonte: KPMG, 2019
As motivações para a realização de viagens de férias de golfe podem ser de diversa natureza, correspondendo a diferentes perfis de jogador e à diferente valoração dos fatores a considerar em viagens deste tipo. Assim, podemos considerar os seguintes segmentos (Quadro 2):
Quadro 2 – Motivações de viagens de turismo de golfe
Motivações de viagens de turismo de golfe |
- Turistas em férias e que praticam golfe durante as mesmas; |
- Turistas de golfe que procuram destinos próximos da sua residência; |
- Jogadores de grupo, privilegiam viagens com os seus parceiros de jogo habituais; |
- Jogadores que priorizam a relação custo-benefício; |
- Jogadores que priorizam os campos a jogar; |
- Jogadores classificados como “gastadores aventureiros”. (Sports Marketing Surveys) |
Fontes: Brown e Feito (s.d.), “Travel Motives and Golf Tourists: An Exploratory study”; SMS (2021), “Wild Swing – Golf Tourism Segmentation Helps Market to New Tribes of Golfers”
Tomar em consideração as preferências individuais, indo ao encontro das reais necessidades deste tipo de turista, constitui por si só, um fator crítico de sucesso para a sua captação. A este propósito, atente-se sobre como a SMS define e caracteriza aqueles que designa por “gastadores aventureiros”:
- Percecionam a comida e a bebida, aliados à possibilidade de descobrir novos destinos, como fatores relevantes na escolha do destino;
- Existem em maior número em mercados com maior tradição em atividades de ar livre, designadamente, Alemanha e países nórdicos;
- Utilização de termos como “aventura”, “único”, “novo” ou “emocionante” podem ser elementos a considerar nos materiais promocionais;
- Não são sensíveis ao fator preço;
- Espírito jovem;
- Maior presença feminina;
- 36% dos suecos; 31% dos alemães; 18% de britânicos e franceses.
Imagem 1 – Caracterização do segmento “Gastadores aventureiros”
Extraído de: SMS, 2021
Trata-se, pois, de um segmento da máxima relevância, potenciada pelas características especificas do momento que vivemos à escala planetária e que tem impedido as viagens internacionais, fomentando ainda mais aquilo que já seria a vontade e disponibilidade normal para a realização deste tipo de viagens.
Caminhos para a retoma
Face à forma como o turismo de golfe foi negativamente afetado pela pandemia durante 2020, e que muito prejudicou agências e operadores especializados em férias de golfe, viagens e coaching, verificamos que este período de perda, continua a estender-se no início de 2021, tendo sido perdido o primeiro período de maior procura nos países do sul da Europa, entre março e maio.
A esperança reside agora nalguma retoma para o período compreendido entre setembro e novembro, sendo expectável que do ponto de vista sanitário a situação se altere significativamente até lá, com consequências positivas na liberalização das viagens e especificamente no turismo de golfe.
A expectativa para quem oferece serviços ligados ao turismo de golfe é que muitos jogadores de golfe se viram privados em pelo menos um, se não mais, dos seus habituais períodos anuais de férias de golfe, estando ávidos para preencher essa lacuna, sendo por isso expectável uma forte procura, assim que as viagens internacionais sejam autorizadas.
A concretizar-se esta esperada procura, a indústria do turismo de golfe em 2021 poderia ter um impulso oportuno e muito necessário. No entanto, e em resultado de um elevado grau de incerteza que prevalece no que respeita às viagens internacionais, as pessoas não estão ainda a assumir compromissos para viajar proximamente, o que não se podendo atender como uma surpresa, poderá levantar dificuldades adicionais aos fornecedores de serviços deste negócio até chegarmos ao momento da retoma efetiva.
O adiamento e não compromisso com a tomada de decisão por parte dos habituais ou potenciais utilizadores deste tipo de serviços, traz uma preocupação que perpassa todo o setor no momento presente. Segundo a Golf Business, a maioria dos jogadores de golfe questionados num inquérito recente, está à espera para ver o que acontece antes de se comprometer com a reserva de viagens. Obviamente, que esta não é uma situação ideal, mas, ao mesmo tempo, traz, para já, uma alteração significativa face ao funcionamento mais tradicional do procedimento associado às reservas, como aconteceria num ano normal.
Com as restrições de viagens atualmente em vigor em muitas partes do mundo e muitas alterações a terem lugar nessas restrições, frequentemente numa base mensal, o que pode parecer seguro para reservar num mês, poderá mudar significativamente no mês seguinte.
Conclusão
Conclui-se assim que a motivação para a realização de viagens de golfe e os determinantes que influenciam a revisita do golfista é imprescindível para estudar um destino turístico, especialmente para o turismo de golfe. Cada motivação dos golfistas e a sua intenção de regressar está diretamente relacionada com a sua satisfação com os serviços ou produtos que oferecidos.
Para os turistas de golfe os fatores fundamentais para as suas escolhas continuam a ser os de sempre: o clima, boa comida e boa bebida, disponibilidade de vários campos em distâncias relativamente curtas e a qualidade dos campos (Gráfico 3). As questões ligadas à segurança sanitária, embora não estejam naquele grupo, no momento presente, assumem-se como relevantes, especialmente no processo de pesquisa e de reservas.
Gráfico 3 – Fatores relevantes para os turistas de golfe
Extraído de: https://www.sportsmarketingsurveys.com
Cada um dos segmentos de jogadores atrás referidos deve ser abordado da forma correta, evidenciando os fatores a que dá maior importância, de forma serem motivados para a concretização da sua viagem de férias de golfe.
A IAGTO encorajou os organismos responsáveis pelo turismo nos destinos de golfe, bem como outros players e fornecedores de serviços de golfe a não cortarem os seus orçamentos e estarem preparados para investir na promoção de viagens de golfe assim que a confiança voltar ao mercado.
Assim que as viagens internacionais voltarem a ser possíveis, a indústria do turismo de golfe terá os seus clientes de volta, mas pode ter que enfrentar uma onda de incerteza, por mais algum tempo, antes que possa voltar algum tipo de normalidade.
Portugal reconhecido por várias ocasiões como melhor destino de turismo de golfe do mundo e o Algarve designado pela IAGTO como melhor destino de golfe do mundo em 2020, estarão com toda a certeza em posição privilegiada para poder captar e receber nos seus resorts e campos os turistas internacionais de golfe que nos procurem.
Fontes:
https://destinationgolf.travel