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E se a temperatura aumentar e a procura turística reduzir?
Nos últimos 150 anos, a temperatura média subiu cerca de 0,8º C ao nível mundial e 1º C na Europa. O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas prevê que a temperatura média global à superfície possa aumentar de 1,8º C a 4º C até 2100, se não forem tomadas medidas para limitar as emissões.
Os impactos das alterações climáticas já são observados e prevê-se que se tornem mais evidentes. Também se prevê que a ocorrência de situações meteorológicas extremas, incluindo ondas de calor, secas e inundações, seja mais frequente e intensa, como já estamos habituados a ouvir.
Mas, vamos olhar para os impactos na procura turística na Europa, da subida da temperatura global. Como vamos atuar se os fluxos turísticos se deslocarem mais para norte? E se a procura turística nos países do sul da Europa reduzir, por diminuir o conforto provocado pelo aumento da temperatura? O Joint Research Centre (JRC), da Comissão Europeia, ajuda-nos a projetar a procura turística em 4 cenários de aumento da temperatura até 2100: 1,5º, 2º, 3º e 4º.
Num cenário de aumento de 1,5°C, prevê-se que a maioria (80%) das regiões europeias seja afetada pelas alterações climáticas numa proporção reduzida, oscilando o fluxo de turistas que visitam essas regiões entre -1% e +1%. Estima-se que o declínio mais elevado ocorra em regiões como o Chipre (-1,86%), enquanto o aumento máximo poderá ocorrer numa região costeira finlandesa (+3,25%). Os resultados são bastante semelhantes para o cenário de aquecimento de 2° C.
Já nos cenários de aquecimento de 3°C e 4°C, as mudanças nos padrões de procura na Europa prevêem-se significativas, com um claro padrão norte-sul, com as regiões da Europa Central e do Norte a tornarem-se mais atrativas para atividades turísticas durante todo o ano, em detrimento das zonas do Sul e do Mediterrâneo.
Num cenário de aquecimento global de 4°C, prevê-se que 52 regiões europeias na Bulgária, Grécia, Chipre, Espanha, França, Itália, Roménia e Portugal percam fluxos turísticos em relação ao presente. Por outro lado, estima-se que 80% das regiões vejam a procura turística aumentada, em relação a 2019, com taxas de crescimento superiores a 3% no número de dormidas para um total de 106 regiões (regiões sombreadas de azul-claro a azul-escuro no mapa).
Sabe-se que as regiões costeiras e insulares são altamente vulneráveis aos impactos das alterações climáticas, o que também é confirmado pela análise, em que se prevê que as regiões costeiras enfrentem os maiores impactos na procura turística nos cenários de maior aquecimento.
Alterações nos padrões de sazonalidade
O mesmo estudo antecipa que os padrões de sazonalidade do turismo se alterem, com impactos variáveis regionalmente, com as regiões costeiras do Norte da Europa a registarem um aumento significativo da procura durante os meses de verão e início do outono, enquanto as regiões costeiras do Sul devem perder turistas durante o verão, em especial nos cenários de clima mais quente.
O maior aumento da atividade turística em toda a Europa está previsto para o mês de abril, com um aumento estimado de +8,89%, num cenário de 4ºC, face à atual situação. Por outro lado, a maior diminuição da procura turística europeia está prevista para o mês de julho, variando entre -0,06% no cenário de 1,5°C e -5,72% no cenário de clima mais quente.
Para conhecer melhor o modelo de previsão do JRC leia o artigo.