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Como é que as alterações climáticas poderão atingir o turismo na Europa?
No seu 6.º relatório de avaliação, o IPCC – Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações Climáticas faz um levantamento exaustivo das mais do que prováveis consequências da subida da temperatura superior a 1,5ºC, em cada região do planeta e de que forma as diferentes atividades poderão ser atingidas.
Nessa medida e dada a crescente importância das atividades turísticas em Portugal no conjunto da atividade económica nacional, importa tomar conhecimento das prováveis mudanças climáticas que atingirão o território nacional e como preparar o destino, de forma a manter a sua elevada atratividade e capacidade de atração de fluxos turísticos internacionais.
Entre as principais alterações que atingirão o continente europeu na sua globalidade, contam-se:
- Aumento das temperaturas em todas as regiões europeias, a uma taxa mais elevada do que as mudanças globais de temperatura média, independentemente dos níveis futuros de aquecimento global a verificar no futuro;
- Crescimento, já verificado nas décadas mais recentes, da frequência e intensidade de extremos quentes, incluindo ondas de calor marinhas, projetando-se que continuem a aumentar, independentemente do cenário de emissões de gases de efeito estufa;
- Diminuição da frequência de períodos de frio, em todos os cenários de emissões de gases de efeito estufa;
- Alterações no padrão de distribuição de precipitação durante o inverno, com aumento projetado de precipitação no inverno no norte da Europa, conjuntamente com um decréscimo da precipitação no verão no Mediterrâneo, estendendo-se para as regiões do norte. Em consequência, projeta-se a ocorrência de precipitação extrema e de inundações pluviais em toda a Europa, com exceção das áreas próximas do Mediterrâneo;
- Subida do nível médio das águas do mar em todas as regiões litorais europeias, exceto no Mar Báltico, independentemente do nível de aquecimento global, a uma taxa próxima ou superior ao nível a verificar no resto do planeta. Eventos extremos no nível do mar tornar-se-ão mais frequentes e intensos, levando a mais inundações costeiras. As linhas costeiras ao longo das costas arenosas recuarão ao longo do século XXI;
- Forte declínio nos glaciares, permafrost, extensão da cobertura de neve e duração sazonal da neve em elevadas latitudes/altitudes já observadas, continuarão a agravar-se com o aumento da temperatura.
Figura 1 – Projeções de alteração da distribuição da precipitação na Europa
(em função do grau de aquecimento da atmosfera)
Fonte: IPCC, Sixth Assessment Report, 2022
Para os países do sul da Europa, incluindo Portugal, já são observados aumentos dos períodos de seca com consequências hidrológicas, agrícolas e ecológicas, sendo previsível maior aridez e condições climatéricas favoráveis à ocorrência de incêndios, num horizonte de aumento da temperatura em 2ºC. Esta subida da temperatura trará, em meados do século, para o sul da Europa, uma combinação de fatores diretamente decorrentes e que incluem:
- Aquecimento da atmosfera;
- Ocorrência de temperaturas extremas;
- Aumento de secas e aridez;
- Diminuição da quantidade de precipitação;
- Extensão da época de incêndios;
- Subida do nível médio das águas do mar;
- Diminuição da cobertura de neve;
- Redução da velocidade do vento.
Impacto das alterações climáticas nos destinos de sol&praia
As alterações climáticas ao impactarem sobre os territórios de destino, trarão consequências que se farão sentir sobre a sensação de conforto térmico dos visitantes e nalguns casos mesmo sobre a capacidade de atração, designadamente para os destinos de sol&praia e para produtos mais suscetíveis às boas condições climatéricas.
Nessa medida, o IPCC identificou o que designou por Climatic Impac-Drivers (CDI) com capacidade para afetar as atividades turísticas. Um fator de impacto climático (CID) é uma condição física do clima que tem o potencial de afetar a sociedade ou os ecossistemas. No caso presente, importa identificar os de maior relevância para avaliação de risco no setor do turismo.
Alguns CID’s correspondem a condições meteorológicas e climatéricas extremas, eventos que podem desencadear desastres naturais, como tempestades, ondas de calor, inundações, secas e incêndios florestais, que causam danos diretos e impactos duradouros. Outros CIDs correspondem a mudanças climáticas que se farão sentir aos logo dos anos, como alterações graduais na temperatura média e na precipitação, aumento do nível das águas do mar e declínio da cobertura das superfícies de neve.
Quadro 1 – Principais consequências das alterações climáticas sobre os destinos e produtos turísticos
Previsões para Portugal
Para territórios/destinos como Portugal, com uma linha de costa que corresponde a metade da sua fronteira total, com duas regiões insulares e uma das mais extensas zonas económicas exclusivas, as alterações climáticas, bem como alguns dos efeitos mais diretos e mesmo os que só se sentirão no longo prazo, não poderão deixar de estar na primeira linha das preocupações e da ação política dos mais altos responsáveis nacionais.
É um dado adquirido que nenhum país por si só, ou agindo isoladamente, irá conseguir agir sobre a mitigação das alterações climáticas. Por essa razão a ação de Portugal deverá ser conduzida em dois planos, o nacional e o internacional. No plano nacional cabe o desenvolvimento e implementação de planos e ações que visem prevenir os efeitos mais nefastos sobre o território, as populações residentes e de quem procura o país, enquanto destino de férias. Em simultâneo, Portugal deverá em todos os fóruns temáticos internacionais estar entre as nações mais ambiciosas e que lideram o combate pela defesa dos valores ambientais e mais concretamente no que se refere ao combate à subida da temperatura do planeta.
Fonte: IPCC - 6.º relatório; Working Group II e Working Group III